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A TRANSIÇÃO E O CINEMA CONTEMPORÂNEO
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Manhattan, 1979
Um filme de Woody Allen
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No cinema, como tudo na vida, há um momento que é a época da transição, pois nada é eterno nesta terra dos homens. E aconteceu que no final da década de sessenta para início da década de setenta, a transição do chamado Cinema Clássico para o Cinema Contemporâneo. Quando o cinema sai daquela temática acadêmica tradicional imposta por Hollywood, entre as décadas de 20 e 60 (onde o seu apogeu foi às décadas de 40-50), para uma visão nova e renovada do cinema como um todo. É verdade que alguns autores continuaram, por algum tempo, fazendo o cinema ao estilo clássico, mas, muitas vertentes enredaram por outros caminhos apresentando obras que fugiam a tradição clássica, principalmente de Hollywood, de se contar uma história. Podemos notar nesta transição, uma grandiosa evolução no tocante à exposição de temáticas politicamente engajadas e que procuravam retratar da maneira mais fiel possível à realidade vivida pelos personagens em seus diversos meios de convivência social. Não se tratava aqui dum cinema realista como o neo-realismo italiano, por exemplo, mas, um cinema, que além de retratar a realidade, ou uma bem tramada ficção com aspectos que retratavam a realidade, porém, com duas diferenças: são obras de produções bem cuidadas e diretores e atores de primeiro escalão; mas com uma temática de questionamento político e social, embora de maneira, por vezes, indireta.
Podemos dizer que os filmes do início da era Contemporânea do Cinema, não eram, por assim dizer, politicamente corretos; mas eram, sem sombra de dúvidas: questionadores, retratadores de uma sociedade, que outrora, fora mistificada e glamourizada por Hollywood. Damos o exemplo de Operação França, de William Friedkin, um filme policial que tinha uma visão mais suja e violenta da realidade das ruas de Nova York. É um filme que procura mostrar de maneira mais transparente e até mesmo ousada, para a época de seu lançamento, a dura convivência entre criminosos e a lei, retratando a figura do policial de uma forma muito mais humanizada, sem empregar às suas ações aquele tom de super-heroísmo comumente encontrado nas produções das décadas anteriores.
E assim, por diante, foram surgindo filmes e mais filmes com temáticas que fugiam ao classicismo natural da fase clássica.
Como Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, na Inglaterra, que permanece até os dias de hoje como uma das fitas mais marcantes e ousadas da história, com a temática da violência e o seu tratamento.
No mundo todo, este chamado cinema político / social, começou a dar as cartas e a Meca do cinema mundial, Hollywood, não poderia deixar de lado esta nova fase do cinema e embarcou em temáticas que visavam a dureza da realidade social.
Filmes como O Poderoso Chefão, 1972, Taxi Driver, 1976 e Apocalypse Now, 1979, entre outros. Este último, por exemplo, que retratava a imbecilidade e a loucura proporcionada pela guerra, em um dos filmes mais fenomenais desta fase do cinema americano e mundial. Vale complementar aqui, que este filme do mestre Francis Ford Coppola, é um exemplo característico da diferença do cinema atual ao da era clássica do cinema americano: naqueles, nos filmes de guerra os protagonistas eram invariavelmente heróis; nestes, os protagonistas nem sempre o são, podem ser loucos homicidas e consumidores de drogas, retirando o glamour, mas inserindo a realidade às obras, desnudando o homem daquela sua áurea de mocinho bem comportado e politicamente correto.
É lógico que alguém vai dizer que, já na década de sessenta, e até em décadas anteriores, houve filmes que desmistificaram os heróis americanos; e poderiam inclusive citar a corrosiva obra-prima de Sam Peckinpah, Meu Ódio Será Tua Herança, no gênero mais autêntico e genuinamente americano que existe. Sim, é verdade! E é exatamente estes filmes, que já vinham dando os ares de suas graças, que foram, aos poucos, moldando como seria a nova fase do cinema americano e mundial. Pois uma coisa todo mundo concorda: nada surge do nada! Há que haver um pré-film Noir, um pré-neo-realismo, etc; assim como, é claro, um pré-cinema contemporâneo. A estes filmes que foram realizados no final da década de sessenta e início da de setenta, é o que chamamos de filmes de transição.
Mas, o cinema autoral também, começou a colocar as duas manguinhas de fora e importantes autores fizeram grandes obras para o enriquecimento do cinema mundial. Como exemplo posso citar Woody Allen, que, entre outras obras, fez a sua maior obra-prima, a melhor história de amor cômica do cinema, Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, 1977; e outros autores também, como Brian De Palma, Milos Forman, Roman Polanski, entre tantos, fizeram obras autorais e de temáticas atuais e que fugiam ao glamour natural das obras clássicas. Vale acrescentar também que, evidentemente, já existia o cinema autoral, principalmente na Europa, mas, na América dos grandes e poderosos estúdios, um diretor precisa ter muito peito para nadar contra a correnteza.
Nesta fase também, foi intensificado o cinema de entretenimento (que sempre existiu nos EUA, mas não era tão massificado quanto nos tempos atuais), sendo que hoje em dia, o mercado é absurdamente dominado por estes filmes, na sua grande maioria descartáveis. Um dos grandes autores deste tipo de cinema é Steven Spielberg, e se somam a ele, uns três ou quatro bons autores, mas a grande maioria, infelizmente, são diretores paus-mandados a cargo de produções caríssimas, mas de qualidade pra lá de duvidosas.
É lógico que de tempos em tempos surgem obras de qualidade que destoa no meio dos blockbusters (arrasa-quarteirões) que dominam o mercado. Obras de gente como Quentin Tarantino e do próprio Steven Spielberg e outros que surgem do nada, mas, que infelizmente, também desaparecem da mesma forma que apareceram: ou por falta de apoios tentam sobreviver nos chamados cinemas independentes, ou seduzidos pelos dólares sucumbem aos poderosos e passam a dirigir obras de entretenimento também.

Ao final, quero dizer, que embora o cinema contemporâneo possa ser mais explícito nas obras de diretores de países europeus e outros, deixamos estes filmes, embora característicos desta fase, nas páginas referentes aos próprios países deles. E que esta página, não é para criticar o cinema atual, muito pelo contrário, é para retratar o que de melhor (segundo a nossa opinião, é claro) foi produzido de 1970 para cá. Porque, ao final de tudo, o que nos interessa são os filmes, são os bons filmes; é para isso que cansamos os nossos dedos nos teclados do PC, o resto são apenas introduções para melhor situar os nossos preferidos nos temas propostos!
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